sexta-feira, 22 de novembro de 2013

A Carta de Alice

Ei Lucas estava pensando em você sabia? Também não é para menos, você não sai da minha cabeça desde o dia em que entrou. Mas bem, estava me lembrando da primeira vez que nos vimos, lembra-se? Eu me lembro bem. Éramos apenas duas crianças, é verdade, com nossos 10, 11 anos, mas a vida era mais fácil. Conhecemo-nos no primeiro dia de aula. Matheus nos apresentou, porque era um amigo nosso em comum e você era novato na escola, conhecia apenas Matheus. Rimos juntos e fizemos amizade logo de cara. Lembra-se? Os anos se passaram e com 13 eu me apaixonei por um garoto (cujo nome nem me recordo mais) e você pela minha melhor amiga da época, Luisa. Era um ajudando o outro a realizar os desejos amorosos da idade. Teve a festa do Matheus, cada um acabou beijando o seu tão desejado par. No dia seguinte a gente se encontrou e rimos de toda a situação, você dizia que o beijo tinha sido completamente estranho e não o que você imaginava, e eu que o garoto foi um babaca e não tinha sentido nada de especial na hora (Aliás, Luisa se mudou para o Panamá um mês depois, e nunca mais nos falamos). Rimos durante o resto da tarde. Cara, eu me impressiono com o tanto de segredos que já trocamos. 14, 15 anos… Eu me interessando pelos caras errados e ignorando seus alertas, você com as garotas mais “pra frente” e eu lhe dizendo que era errado… Foi assim… Até quando saímos juntos, com 16 anos. Foi estranho. Isso eu sei que você lembra bem (contamos essa história três meses atrás).

Você me chamou para ir ao cinema, eu já não sabia o que sentia por você, mas fingia que não sentia nada. Pelo jeito, você fazia o mesmo, mas tomou uma atitude. Conversa vai, conversa vem, fomos ao cinema. Aqueles cinemas antigos, que passam filmes antigos pro público, sabe? Assistimos TITANIC. No final do filme, que eu estava aos prantos em teus braços, fora do cinema, você levantou meu rosto e me beijou com ternura. Eu, claro, retribuí. Foi o melhor primeiro beijo de nossas vidas. Primeira sensação gostosa. Primeiras borboletas. Primeiro carinho. Primeiro sentimento. Tudo com você. Depois disso, continuei em teus braços, sorrindo. Você chamou um taxi e se despediu de mim, me deixando na porta de casa com um sorriso enorme no rosto. Como eu amo nossa história.

Bem, desde então, nunca mais parei de pensar em você. Já pensava antes, claro. Mas desde aquele beijo, você se tornou vital. Ficamos mais algumas vezes e você me pediu em namoro. Foram quatro anos juntos. Depois de um ano de namoro, ambos descobrimos que não éramos mais virgens. Aliás, não é pra menos. Os dois já tinham namorado. Mas sei que você, assim como eu, considera nossa primeira vez, A primeira vez. Foi perfeito. Nos 17 anos. No auge, no romance e no impulso. Eu te amo. Porra. Porque eu ainda te amo? Eu sei por quê. Porque você sempre me fez bem, porque sempre me escutou, sempre me ajudou e sempre esteve do meu lado. Sempre foi meu companheiro, desde caídas de bicicletas até traições nos meus 15 anos. E agora, estamos assim, não é mesmo? Chega a ser trágico.

Espere um minuto, vou abrir uma garrafa de vodka. Lembrar de você, escrever pra você, pensar em você me faz bem. Até certo ponto. Pronto, voltei. Agora estou eu aqui, chorando, sentada na sala onde costumávamos rir vendo filmes de terror. Ou dormir abraçados. Ou você tocava alguma musica para mim, enquanto eu tentava cantar e fingia que acreditava quando dizia que a minha era a mais bela das vozes. Éramos felizes! Porque fizemos isso? Eu sinto sua falta. Espero que também sinta a minha. Beijos, abraços, cafunés, carinhos. Era tudo perfeito entre nós. Nossas noites também eram perfeitas. Sempre ríamos no final de tudo, recorda-se? Conseguíamos rir até de nossas brigas.

Menos dessa. Essa de três meses atrás. Essa onde eu lhe joguei um vaso de plantas, onde gritamos e você fez as malas. Onde eu te mandei ir embora de casa, depois de quatro anos juntos. Essa que eu me arrependi desde o momento em que começou, desde quando você saiu por essa maldita porta que está a minha frente.
Somos orgulhosos o suficiente para não voltar atrás. Não naquele dia. Mas depois de tanto tempo? Você não sabe quantas vezes disquei seu numero no confidencial para ouvir sua voz, e você não atendeu. Nunca estava em casa. Ao menos, era o que parecia. Quantas vezes eu parei, na porta de seu escritório e o porteiro, o simpático, João, me perguntava se não queria subir. Eu negava e ia embora, pedindo para não avisar que tinha aparecido. Porque tem de ser assim? Ontem chorei de novo, da mesma forma que venho chorado nos últimos meses. De saudade. De raiva de mim. De raiva de você por não sair da minha vida eu tentando ou não. De raiva de nós, por sermos idiotas.

Por fim, sabe Lucas, eu to precisando de você. Estou precisando pra caralho, do teu abraço, do teu beijo, da tua risada… Só você me faria bem agora. Mas não irei lhe enviar esta carta. Ah sim, a garrafa de vodka acabou. Mas não irei lhe enviar esta carta, porque tenho de estar mais bêbada para tomar coragem de primeiro, ouvir sua voz. Esperarei mais um pouco para lhe entregar esse pedaço de papel rasgado de um caderno velho, todo manchado de lágrimas. Ele ficará guardado, no fundo falso daquela gaveta, do armário que você construiu, onde eu fiz um desenho a óleo, do nosso primeiro beijo.

Eu te amo.
Alice.

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